Nas últimas décadas, o mundo corporativo tem passado por transformações profundas impulsionadas por demandas sociais, ambientais e éticas. Nesse contexto, a sigla ESG — Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança) — tornou-se central no vocabulário das empresas, investidores e reguladores. Mais do que uma tendência, o ESG representa uma mudança estrutural na forma como os negócios são conduzidos, desafiando modelos tradicionais de gestão e abrindo caminho para uma atuação mais consciente e integrada às necessidades da sociedade e do planeta.

O que é ESG?
O conceito ESG surgiu no início dos anos 2000, impulsionado por movimentos de investidores institucionais preocupados com os riscos não financeiros nas empresas. A ideia é simples, mas poderosa: organizações que se comprometem com boas práticas ambientais, sociais e de governança tendem a ser mais sustentáveis e, por consequência, mais resilientes e atrativas no longo prazo.
Ambiental (E) diz respeito ao impacto das empresas sobre o meio ambiente — emissão de carbono, uso de recursos naturais, resíduos, energia renovável, entre outros.
Social (S) aborda as relações da empresa com seus stakeholders: condições de trabalho, diversidade e inclusão, impacto nas comunidades, saúde e segurança.
Governança (G) trata da estrutura de liderança, ética, transparência, responsabilidade corporativa, compliance e combate à corrupção.
A Relevância do ESG no Brasil
No Brasil, o tema ganhou força principalmente após 2020, com o aumento da pressão internacional por compromissos ambientais e sociais, além das demandas dos próprios consumidores e investidores.
O país, com sua vasta biodiversidade e profundos desafios sociais, tem uma posição estratégica no debate global sobre sustentabilidade. Isso torna ainda mais relevante que as empresas brasileiras adotem práticas ESG robustas e transparentes.
O Papel do IBGC
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) tem sido um dos principais atores na promoção de boas práticas de governança no país. Fundado em 1995, o IBGC tem como missão disseminar os fundamentos da governança corporativa como forma de aprimorar o desempenho das organizações e fortalecer as instituições no Brasil.
Nos últimos anos, o Instituto passou a incorporar de forma mais clara a agenda ESG em suas diretrizes. Em 2022, lançou a publicação “Boas Práticas para uma Agenda ESG nas Organizações”, que oferece orientações para conselheiros e gestores integrarem efetivamente os aspectos ESG à governança corporativa. Além disso, a 6ª edição do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, lançada em 2023, incorporou referências mais explícitas aos princípios de sustentabilidade, diversidade e responsabilidade social.
Esses documentos destacam que a governança deve ser o ponto de ancoragem das iniciativas ESG, cabendo ao conselho de administração a responsabilidade de supervisionar riscos e oportunidades nessas áreas, além de garantir alinhamento com a estratégia de longo prazo da organização.
Benefícios e Riscos do ESG
A adoção de práticas ESG pode trazer benefícios tangíveis e intangíveis às empresas. Entre eles, destacam-se:
• Melhoria da reputação e imagem institucional
• Acesso facilitado a capital, especialmente fundos de investimento com critérios sustentáveis
• Redução de riscos legais e operacionais
• Maior engajamento de colaboradores e clientes
• Eficiência operacional e inovação
Por outro lado, o chamado “greenwashing” — prática de promover uma imagem ambientalmente responsável sem ações concretas — se tornou uma preocupação crescente. Empresas que adotam o ESG apenas de forma superficial correm o risco de sofrer sanções reputacionais e jurídicas.
É aí que a governança exerce papel fundamental, devendo atuar como o “sistema nervoso” da empresa, integrando todas as áreas e assegurando que as políticas ESG sejam não apenas implementadas, mas efetivamente acompanhadas, auditadas e reportadas.
Desafios para a Implementação
Apesar do avanço do tema, a aplicação prática do ESG ainda enfrenta obstáculos relevantes no Brasil. Entre os principais, estão:
• Falta de padronização nas métricas e indicadores de desempenho ESG
• Baixo nível de transparência na divulgação de relatórios de sustentabilidade
• Desconhecimento técnico nas lideranças empresariais
• Desalinhamento de interesses entre curto prazo (lucro) e longo prazo (sustentabilidade)
A capacitação de conselheiros e executivos é um passo essencial para enfrentar esses desafios. Além disso, iniciativas regulatórias, como a exigência da CVM para divulgação de informações ESG em formulários de referência, apontam um caminho sem volta para a institucionalização da agenda.

O Futuro do ESG
O futuro do ESG dependerá da capacidade das organizações de transformar compromissos em ações concretas e resultados mensuráveis. A transparência, aliada à tecnologia e à governança robusta, será o diferencial competitivo. Cada vez mais, investidores e consumidores exigirão das empresas não apenas declarações de intenções, mas evidências de impacto.
A governança é o ponto de partida para qualquer estratégia ESG sólida. Nesse sentido, empresas que desejam prosperar no século XXI precisarão repensar seus modelos de negócios, considerando não apenas o lucro, mas o propósito, a ética e a contribuição para um futuro mais sustentável.
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-Por Katia Braga