ESG – Matérias-Primas de Fontes Renováveis e Produtos Biodegradáveis

ESG – Matérias-Primas de Fontes Renováveis e Produtos Biodegradáveis

Em 2022, o Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum) publicou seu mais recente relatório de riscos globais, e não foi muita surpresa perceber que, desde 2020, problemas ambientais vêm sendo a causa majoritária das preocupações do globo. Problemas como temperaturas extremas, catástrofes naturais, perda de biodiversidade e falha na implementação stede ações climáticas, estão na pauta do relatório desde 2011, mas apenas este ano, foi motivo de choque para o mercado.

Mesmo que a preocupação com a preservação da natureza esteja presente desde muito antes dos anos 1980, a mobilização pela causa ainda é recente, e caminha à passos de tartaruga quando falamos da implementação de ações efetivas, e com a recente pandemia do COVID-19, o mercado ainda tem pensado formas de se reinventar, em especial no setor de saúde, que após a quantidade de lixo hospitalar produzido, percebeu-se a necessidade de buscar por materiais menos agressivos ao meio-ambiente e métodos de trabalho mais sustentáveis.

O que tem ganho palco nas últimas duas décadas, são as práticas ESG (Environmental, Social and corporate Governance – Governança Ambiental, Social e Corporativa), que buscam trazer, através da adoção de atitudes, padrões e valores, um desenvolvimento sustentável para todos os setores da empresa, seja no setor administrativo ou de produção.

Atualmente, são mais de U$30 trilhões de ativos investidos em práticas ESG, o que significa que os investidores têm tornado suas cartelas mais “conscientes”, e quem escolhe por adotar estratégias sustentáveis, também escolhe buscar credibilidade no mercado financeiro e na indústria.

Para entender a grandeza e a importância do Environmental, Social and corporate Governance, vamos dar um exemplo prático.

ESG na indústria de tintas

Consideremos o mercado de tintas brasileiro, que hoje representa cerca de 45% do total produzido na América Latina, sendo a 5ª maior indústria mundial. Quando falamos do ecodesign por trás da produção de tintas, estamos falando de como este material foi pensado, não apenas na sua função decorativa, mas em etapas do design ecológico e da aplicação das práticas ESG, que transcendem os muros da indústria, tais como:

–      Reduzir a quantidade de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs) nas composições das tintas, diminuindo os poluentes liberados no ambiente, não apresentando riscos para a camada de ozônio ou à saúde;

–      Fabricação de produtos com maior durabilidade e qualidade, reduzindo os custos de manutenção;

–      Uso de matérias-primas de fontes renováveis criando uma cadeia de produção sustentável.

Este último tópico tem aberto caminhos inovadores na indústria, não apenas de produção e tintas, mas no mercado em geral. Já se sabe que é possível utilizar de restos de cana-de-açúcar, agricultura, aquicultura e demais resíduos vegetais ou alimentícios, para fabricação de itens com selos sustentáveis.

Matérias-primas de fontes renováveis e produtos biodegradáveis

Com o desenvolvimento do mercado e de novas tecnologias, os estudos para aprimorar os processos de criação de itens sustentáveis têm descoberto novas maneiras de reduzir a quantidade de componentes usados na “receita”, sem perder a qualidade do produto final. A tal “fórmula mágica” é o que agora chamamos de matérias-primas de fontes renováveis.

Para elencar algumas dessas fontes renováveis, vale citar, a exemplo, resíduos de cana-de-açúcar, milho, soja, amido de arroz ou demais resíduos vegetais ou animais, vindos de indústrias ou grandes fazendas, que serão processados e usados como base para a fabricação de novos materiais.

Daí, é possível que sejam feitos os tais produtos biodegradáveis e os de base biológica – que agora vem ganhando visibilidade no mercado e sendo extremamente útil para setores de serviços, por exemplo.

É preciso entender, no entanto, que ser biodegradável não é a mesma coisa que bio baseado, ou vice-versa. A diferenciação se dá por uma questão funcional: um item é biodegradável quando é composto por materiais aos quais podem ser decompostos por microorganismos, não agredindo o ambiente; já um de bases biológicas, é composto parcial ou totalmente de biomassa (matéria vegetal composta por resíduos tanto agrícola quanto florestal, aquática, advindos da indústria alimentícia ou de matadouros), o que não necessariamente o torna biodegradável.

Para ilustrar melhor, deixaremos abaixo o pôster de informações reunidas pelo portal Greenroom Voice, exibido na feira OutDoor by ISPO de 2019. No diagrama, podemos perceber que ainda é um trabalho em constante desenvolvimento e há muito no que ser investido, mas é possível visualizar, também, as oportunidades geradas.

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Neste quadro, observamos os processos de captação de matéria-prima e como, após o uso, os restos destes materiais podem ser absorvidos – ou não – pelo ambiente, sendo possível avaliar a biodegradabilidade e como esta é afetada pela composição do item e condições do local (aeróbico ou anaeróbico).

Testes de biodegradabilidade

Vemos nos estudos de materiais de bases biológicas um futuro, principalmente para a indústria de polímeros, que ainda hoje, utiliza muito de derivados de petróleo na composição de plásticos. Para isso, grandes laboratórios têm desenvolvido testes que comprovem a biodegradabilidade dos materiais, como por exemplo os testes padronizados que atendem aos requisitos das normas européias DIN EN 13432 e DIN EN 14995 e da norma americana ASTM D6400.

Mais da metade dos polímeros de base biológica são biodegradáveis nas condições certas, oferecendo uma solução para plásticos que acabam no meio ambiente porque não podem ser coletados e reciclados. Mesmo aqueles que não possuem funções biodegradáveis, é possível usar substâncias e catalisadores para acelerar sua decomposição sem afetar a natureza.

A partir disso, os itens e as indústrias que os produzem podem ganhar certificações e selos, que atestam seu compromisso socioambiental. Aqui no Brasil, um dos principais selos é o I’m Green, emitido pela multinacional Braskem, mas existem certificações a níveis internacionais, concedidos por instituições governamentais ou não. Veja na tabela abaixo:

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Mas afinal, quais as vantagens e desafios dos materiais de base biológica?

Embora o petróleo bruto precise ser transportado, a matéria-prima orgânica pode ser cultivada em quase qualquer lugar e mais perto dos locais de produção. Os agricultores locais podem fornecer material de base biológica virgem para a indústria com menos impactos de CO 2 e até mesmo com um efeito positivo. Com quantidades limitadas de petróleo bruto e o preço sendo um fator crucial, as alternativas de base biológica podem ser uma solução para mais independência.

Para garantir a qualidade e eficiência das matérias-primas, os cientistas desenvolveram um processo especial para identificar o conteúdo de base biológica dos polímeros. Este método baseia-se na medição da concentração do isótopo de carbono 14 no polímero. Uma concentração muito baixa deste isótopo está presente no tecido de todos os organismos vivos. Embora o isótopo C14 seja instável, sua concentração permanece constante como resultado da interação contínua entre o organismo e o meio ambiente.

Esta é a tal datação por radiocarbono, aplicável a medições de conteúdo de base biológica em produtos manufaturados porque contêm alguma combinação de materiais vivos recentemente e materiais fósseis. A metodologia desenvolvida para este fim é a ASTM D6866, um dos métodos de testagem mais conhecidos e que busca identificar o quanto da composição de um produto é bio-baseado.

É claro que a produção de bioplásticos precisa respeitar a produção local e de exportação de alimentos. Seria muito contraproducente se o uso de bioplásticos reduzisse a fonte de alimento para as pessoas e o reino animal ou levasse à perda da biodiversidade. Mas muitos bioplásticos podem ser feitos de produtos secundários orgânicos, que acabariam como resíduos, se não fossem usados.

Mas quando falamos em usar recursos renováveis, também precisamos olhar para o quadro maior: assim que extraímos material biológico para nossos bens de consumo, retiramos nutrientes do ecossistema, que são importantes para nos alimentar e para as gerações futuras. Será crucial para a saúde dos solos da Terra, que devolvamos nutrição e conteúdo orgânico e fiquemos muito atentos aos agroquímicos, toxicidade e sementes e plantas geneticamente modificadas. Além disso, o aumento da demanda por plantas adaptadas provavelmente definirá e mudará as paisagens agrícolas. Essas reflexões apenas arranham a superfície de um cenário muito complexo e interdisciplinar.

O outro desafio é garantir que o produto acabe no ambiente certo no final de sua vida útil, para que possa ser reutilizado, reciclado, reciclado, biodegradado ou, se nenhuma dessas opções se aplicar, incinerado, que deveria ser o último recurso, mas ainda é a primeira opção, além do aterro, em nosso cenário atual de gestão de fim de vida.

Reduzir nosso consumo, implementar sistemas colaborativos que incentivem as pessoas a consumir de forma diferente e fazer uso de materiais de base biológica são cada vez mais cruciais. A reciclagem de circuito fechado é parte da solução. Mas reduzir nosso consumo e implementar sistemas colaborativos que incentivem as pessoas a consumir de forma diferente também são a chave para promover um futuro mais sustentável.

O assunto realmente é extenso e sua relevância é inegável, então, adoraríamos estender a conversa nos comentários. Caso ainda não seja assinante da nossa newsletter, não se esqueça de se conectar para ficar por dentro deste e outros assuntos da indústria química e do mundo dos negócios. Aguardamos você na próxima quinzena. Abraço e até mais.

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