Fundação e Primeiros Anos
A Kelly-Moore Paints foi fundada em 1946 por William Moore e William Kelly. Em 1952, Moore comprou a parte de Kelly, mas manteve o nome da empresa. Quando Moore se aposentou em 1984, a Kelly-Moore tinha 80 lojas em todo o país e tinha faturamento aproximado de mais de U$136 milhões.
Houve uma grande expansão na década de 1940, apesar dos desafios impostos pela Segunda Guerra Mundial. A empresa teve que lidar com a escassez de matérias-primas, mas a empresa se adaptou rapidamente, encontrando alternativas e ajustando suas fórmulas para manter a produção. Além disso, a empresa contribuiu para o esforço de guerra, fornecendo tintas para uso militar, o que não apenas manteve a operação, mas também fortaleceu sua reputação de confiabilidade e qualidade.
Nos anos 1950 e 1960, a Keely Moore Paints se destacou por suas inovações tecnológicas. A empresa investiu pesadamente em pesquisa e desenvolvimento, criando novos tipos de tintas, incluindo as primeiras tintas à base de látex, que eram mais fáceis de aplicar e limpar. Este período também marcou a entrada da empresa no mercado de tintas industriais, oferecendo soluções para setores como automotivo e construção civil.
Do Crescimento ao Declínio: Problemas com o Uso de Talco com Asbestos

Nos últimos anos, a Keely Moore Paints enfrentou uma crise severa devido ao uso de talco contaminado com asbestos em alguns de seus produtos.
Por quase 20 anos, a empresa usou asbestos como espessante, enchimento e retardador de fogo em seus produtos de acabamento e textura Paco. Esses produtos continham de 5% a 10% de asbestos. Compostos de massa corrida e fita feitos pela Kelly-Moore também continham asbestos.
A contaminação foi descoberta durante uma inspeção de rotina realizada pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) em 2021. Amostras de algumas tintas da Keely Moore foram analisadas e encontraram níveis perigosos de asbestos.
Esta loja da Kelly-Moore Paints na Ocean Street em Santa Cruz fechou junto com o encerramento das atividades da empresa.

FOTO: Tarmo Hannula
O que são Asbestos encontrados no talco
Asbestos ou Amianto é um termo genérico que se refere a um grupo de minerais fibrosos naturais conhecidos por suas propriedades físicas distintas:
– Fibrosidade: As fibras de asbestos são extremamente finas e duráveis. Elas podem ser separadas em filamentos microscópicos.
– Resistência ao Calor e à Corrosão: As fibras de asbestos são altamente resistentes ao calor, fogo, produtos químicos e eletricidade.
– Flexibilidade: Apesar de serem minerais, as fibras de asbestos são flexíveis, podendo ser tecidas em tecidos e usadas em várias aplicações industriais.
É composto por silicatos hidratados de magnésio e ferro. Existem seis tipos principais de asbestos, sendo os mais comuns:
– Crisotila (Asbestos Branco): Este é o tipo mais comum de asbestos e representa aproximadamente 95% do asbesto utilizado na indústria.
– Crocidolite (Asbestos Azul): Conhecido por sua alta resistência ao calor.
– Amosita (Asbestos Marrom): Notável por sua resistência química.
Geologicamente, asbestos são formados a partir de processos metamórficos, onde minerais de silicato são transformados sob altas pressões e temperaturas. Eles são encontrados em veios e fissuras de rochas metamórficas e ultramáficas. O talco, um mineral utilizado em várias aplicações industriais, incluindo cosméticos e tintas, pode ocasionalmente ser encontrado em depósitos de asbestos, o que leva à contaminação.
Riscos à Saúde Humana

A exposição aos asbestos apresenta sérios riscos à saúde humana devido à inalação das fibras finas e duráveis que podem permanecer no ar por longos períodos:
– Mesotelioma: Um tipo raro e agressivo de câncer que afeta a pleura (revestimento dos pulmões) e, menos comumente, o peritônio (revestimento do abdômen).
– Câncer de Pulmão: A inalação de fibras de asbestos pode causar câncer de pulmão, especialmente em trabalhadores expostos an altos níveis de fibras.
– Asbestose: Uma doença pulmonar crônica que resulta em cicatrizes nos pulmões e dificuldade respiratória. A asbestose é causada pela inalação de grandes quantidades de fibras de asbestos ao longo do tempo.
– Outras Doenças Pulmonares: A exposição aos asbestos também pode levar a outras doenças pulmonares não malignas, como placas pleurais, espessamento pleural difuso e derrames pleurais.
Resposta Inicial da Empresa
Ao ser notificada sobre a contaminação, a Keely Moore Paints imediatamente interrompeu a produção e distribuição dos produtos afetados e iniciou um recall massivo. A empresa cooperou plenamente com as autoridades regulatórias para identificar a origem da contaminação e tomou medidas para garantir que todos os produtos restantes fossem seguros para uso.
Apesar das medidas rápidas e decisivas tomadas pela Keely Moore Paints, o impacto na reputação da empresa foi devastador. A mídia cobriu extensivamente o incidente, destacando os riscos à saúde associados aos asbestos e criticando a empresa por não detectar a contaminação mais cedo. Consumidores e profissionais da indústria ficaram alarmados, levando a uma queda acentuada nas vendas e à perda de contratos importantes.
O incidente também desencadeou uma série de investigações e processos legais. Vários processos foram movidos por clientes e trabalhadores que alegaram ter sido expostos aos asbestos e desenvolvido problemas de saúde como resultado. As investigações regulatórias procuraram determinar como a contaminação ocorreu e se houve negligência da parte da Keely Moore Paints ou de seus fornecedores.
Decisão de Fechamento
Após anos de lutas legais e financeiras, a direção da Keely Moore Paints tomou a difícil decisão de fechar a empresa em 2024. A combinação de custos legais, perda de receita e danos irreparáveis à reputação tornou insustentável a continuidade das operações. A empresa entrou com um pedido de falência e iniciou o processo de liquidação de ativos para pagar credores e indenizar os afetados.
O fechamento da Keely Moore Paints marcou o fim de uma era para uma das mais antigas e respeitadas fabricantes de tintas dos Estados Unidos. A história da empresa é um lembrete sombrio dos riscos e responsabilidades inerentes à fabricação de produtos que podem impactar diretamente a saúde pública. A crise do talco com asbestos destacou a importância de controles rigorosos de qualidade e transparência na cadeia de fornecimento.
Lições para a Indústria Brasileira de Tintas
As empresas brasileiras fabricantes de tintas podem aprender várias lições valiosas a partir da história da Keely Moore Paints e dos princípios de Economia Circular e Sustentabilidade. Aqui estão algumas lições importantes:
1- Importância dos Controles de Qualidade
– Implementação de Auditorias Rigorosas: Realizar auditorias regulares e detalhadas nos fornecedores para garantir que seus processos atendam aos padrões de qualidade e segurança.
– Testes Frequentes: Implementar testes frequentes e rigorosos de todas as matérias-primas para detectar possíveis contaminações antes de entrar no processo produtivo.
2- Sustentabilidade e Economia Circular
– Reciclagem e Reutilização: Adotar práticas de reciclagem e reutilização de materiais dentro da empresa, minimizando o desperdício e promovendo a sustentabilidade.
– Design para Reuso: Desenvolver produtos e embalagens que possam ser facilmente desmontados e reciclados, prolongando a vida útil dos materiais e reduzindo o impacto ambiental.
3- Uso de Matérias-Primas Renováveis
– Pigmentos Naturais de Óxidos de Ferro
Esses pigmentos naturais, são extraídos através de processos físicos como esmagamento e maceração. Já existe um aditivo mineral utilizando materiais oriundos da produção de minério de ferro para uso em tintas para piso. Os resultados demostram um aumento significativo nos parâmetros de abrasão e cobertura, tornando essas tintas adequadas para revestimentos de piso.
– Produtos de Base Biológica
Empresa 100% brasileira desenvolveu coalescentes verdes certificados pelo USDA (Programa BioPreferred®), que destacam uma porcentagem acima de 95% de carbono de base biológica em seus produtos. Esses coalescentes proporcionam redução do ponto mínimo de formação de filme (MFFT), controle de brilho e alta resistência à abrasão.
– Microfibras de Celulose (MFC)
Produzidas a partir da polpa celulósica sem ação de químicos, as microfibras de celulose (MFC) são um exemplo de material renovável e biodegradável que podem ser utilizados como aditivos para melhorar resistência a abrasão e tração, e contribui para espessamento das tintas.
4- Governança e Gestão de Riscos
– Comitês de Sustentabilidade: Estabelecer comitês internos dedicados à supervisão das práticas de ESG (Environmental, Social, and Governance) para garantir a implementação eficaz de políticas sustentáveis.
– Avaliação de Riscos: Realizar avaliações de risco periódicas para identificar e mitigar potenciais ameaças à cadeia de fornecimento e à segurança dos produtos.
5- Transparência e Comunicação
– Relatórios ESG: Publicar relatórios transparentes detalhando as práticas de sustentabilidade da empresa, incluindo a origem das matérias-primas e os processos de verificação de qualidade.
– Engajamento com Stakeholders: Manter uma comunicação aberta e constante com stakeholders, incluindo consumidores, investidores e reguladores, sobre as práticas de segurança e sustentabilidade.
6- Educação e Capacitação
– Treinamento Interno: Oferecer programas de capacitação para funcionários sobre a importância da sustentabilidade e as melhores práticas da economia circular.
– Engajamento Comunitário: Engajar-se com as comunidades locais para promover a conscientização sobre a reciclagem e o uso de materiais sustentáveis.
7- Parcerias e Certificações
– Parcerias Sustentáveis: Selecionar fornecedores com certificações de sustentabilidade e estabelecer colaborações para desenvolver novos materiais renováveis e seguros.
– Certificações Ambientais: Participação de Programas Setorias, certificações como ISO 14001 e selos ecológicos que atestem o compromisso da empresa com práticas sustentáveis e produtos ecológicos.
Resposta Proativa a Crises
– Planos de Contingência: Desenvolver planos de contingência para lidar com crises de qualidade e segurança, garantindo uma resposta rápida e eficaz para minimizar danos à reputação e à saúde pública.
– Recall e Comunicação: Estabelecer procedimentos claros para recalls de produtos e comunicação transparente com o público em caso de problemas, mantendo a confiança dos consumidores.
Conclusão
A história da Keely Moore Paints destaca a importância de uma abordagem proativa e abrangente à sustentabilidade e qualidade na indústria de tintas. Empresas brasileiras fabricantes de tintas podem aprender a importância de rigorosos controles de qualidade, o uso de matérias-primas renováveis, e a necessidade de transparência e boa governança. Ao adotar estas práticas, as empresas não só protegerão a saúde pública e o meio ambiente, mas também fortalecerão sua reputação e resiliência no mercado. Implementar essas lições pode ajudar a construir uma indústria de tintas mais segura, sustentável e competitiva no Brasil.
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Fontes do Artigo
1. O’Bier, T. (2024, 15 de janeiro). Kelly-Moore fora do mercado após ‘drenagem de caixa’ de processos por asbestos. Recuperado de [scrippsnews.com](https://scrippsnews.com/stories/kelly-moore-out-of-business-after-cash-drain-of-asbestos-lawsuits/)
2. Umanzor, J. (2024, 13 de janeiro). Kelly-Moore Paints encerrará atividades, fechando 5 lojas em San Francisco. Recuperado de [sfstandard.com](https://sfstandard.com/2024/01/13/kelly-moore-nationwide-closure-san-francisco/)
3. Business Wire. (2024, 12 de janeiro). Kelly-Moore Paints anuncia plano para encerramento ordenado e fora do tribunal das operações da empresa. Recuperado de [businesswire.com](https://www.businesswire.com/news/home/20240112772459/en/Kelly-Moore-Paints-Announces-Plan-for-Orderly-Out-of-Court-Wind-Down-of-Company-Operations)