Introdução
A adubação foliar é uma técnica de nutrição de plantas em que os nutrientes são aplicados diretamente nas folhas, em vez de no solo. A ideia por trás dessa prática é que as plantas conseguem absorver alguns nutrientes de forma mais eficiente através das folhas do que pelas raízes. A adubação foliar é usada principalmente como uma complementação à adubação de solo, sendo útil para corrigir rapidamente deficiências nutricionais em estágios do desenvolvimento das plantas, como floração e frutificação. Existem três principais tipos de adubação foliar. Os fertilizantes foliares podem ser aplicados de forma preventiva, corretiva e complementar.
Como as folhas das plantas absorvem os nutrientes?
Os nutrientes são geralmente aplicados na forma de soluções líquidas, e a absorção de nutrientes pelas folhas das plantas na adubação foliar ocorre por meio de processos específicos que envolvem a estrutura das folhas. A principal via de absorção é através dos estômatos e da cutícula.
- A cutícula é uma camada externa protetora que recobre as folhas, composta principalmente por ceras e lipídios. Embora sua função seja impedir a perda de água e proteger contra patógenos, ela permite que pequenas quantidades de água e nutrientes, especialmente íons dissolvidos, passem por difusão. Nutrientes com maior mobilidade, como os micronutrientes (ex.: zinco, ferro, manganês), conseguem atravessar a cutícula com mais facilidade.
- Os estômatos são pequenos poros localizados principalmente na parte inferior das folhas. Eles controlam a troca de gases e também podem ser uma rota de entrada para soluções nutritivas. No entanto, a absorção pelos estômatos é limitada, pois eles são mais sensíveis às condições ambientais, como luz e umidade.
Em temperaturas muito altas, a transpiração aumenta, o que pode fechar os estômatos, reduzindo a absorção. Já temperaturas moderadas favorecem a absorção. Um nível de umidade adequado ajuda a manter os estômatos abertos e facilita a difusão dos nutrientes. Micronutrientes, como zinco, cobre e ferro, são mais facilmente absorvidos por via foliar, enquanto macronutrientes, como nitrogênio, potássio e fósforo, são menos absorvidos, pois são exigidos em maiores quantidades, tornando a adubação foliar apenas complementar nesse caso.
Como utilizar fertilizante foliar?
Para utilizar fertilizantes foliares de maneira eficaz, é importante seguir algumas etapas e cuidados, garantindo que as plantas absorvam os nutrientes corretamente e que não haja danos às folhas.
Deve-se utilizar fertilizantes foliares específicos para cada tipo de aplicação, com nutrientes solúveis em água e formulados para serem absorvidos pelas folhas. Muitos fertilizantes foliares incluem micronutrientes como zinco, ferro, manganês e cobre. A diluição deve ser feita corretamente, seguindo as instruções do fabricante quanto à dosagem e diluição do fertilizante, geralmente de acordo com a proporção indicada (ex: 10 mL de fertilizante para 1 litro de água). A concentração excessiva pode queimar as folhas, enquanto uma concentração muito baixa pode ser ineficaz.
O horário ideal para aplicação dos fertilizantes foliares é no início da manhã ou no final da tarde, quando as temperaturas são mais amenas e a umidade é maior, entre 18°C e 25°C. Evite temperaturas muito altas (acima de 30°C), pois o calor pode fazer a solução evaporar rapidamente, reduzindo a absorção, além de causar o fechamento dos estômatos. Níveis moderados de umidade favorecem a absorção. A aplicação em dias secos pode prejudicar a eficiência do fertilizante. Condições de alta umidade, próximas a 60-70%, são ideais, pois mantêm os estômatos abertos. É essencial evitar dias de muito vento, que pode dispersar a solução foliar e impedir uma distribuição uniforme sobre as folhas. Também não deve ser aplicado antes de chuvas, pois a solução será lavada antes de ser absorvida pela planta. O ideal é que o clima permaneça seco por pelo menos 6 horas após a aplicação.
A escolha do pulverizador ideal permite uma aplicação fina e uniforme, evitando o escorrimento do produto. A cobertura deve ser a mais completa possível, atingindo tanto a parte superior quanto a inferior das folhas, onde se concentram muitos estômatos. Gotas muito grandes podem escorrer e não aderir bem às folhas, resultando em perda de fertilizante. Gotas muito pequenas, por outro lado, podem evaporar rapidamente. O tamanho ideal das gotas está entre 200 e 300 microns, garantindo uma boa cobertura sem desperdício.
A quantidade de fertilizante aplicado depende do tamanho da planta e da área foliar. É importante cobrir as folhas sem encharcar. Quanto à frequência, siga as recomendações do fertilizante. A maioria dos fertilizantes foliares é aplicada a cada 15 a 30 dias, dependendo das necessidades da planta e do estágio de crescimento. Após a aplicação, é essencial acompanhar o desenvolvimento da planta e, se necessário, ajustar a dosagem ou a frequência das aplicações com base nos resultados obtidos.
É necessário atentar-se à compatibilidade dos fertilizantes foliares com a utilização de pesticidas, pois podem reduzir a eficácia ou até mesmo prejudicar a planta. Diferentes culturas e espécies de plantas podem reagir de formas variadas aos fertilizantes foliares. Certifique-se de que o produto escolhido é adequado para a espécie que você está cultivando.
Tipos de fertilizantes foliares e quando aplicá-los
Os fertilizantes foliares podem ser classificados de acordo com sua composição e função. Cada tipo é mais adequado para situações específicas, como corrigir deficiências nutricionais, estimular o crescimento ou melhorar a resistência das plantas em momentos de estresse. Os principais tipos de fertilizantes foliares são:
Fertilizantes com Macronutrientes
Componentes principais: Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K). Alguns também incluem Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e Enxofre (S).
Função: Esses nutrientes são essenciais para o crescimento das plantas em grandes quantidades. O nitrogênio estimula o crescimento foliar, o fósforo é importante para o desenvolvimento das raízes e floração, e o potássio melhora a resistência a doenças e estresses abióticos.
Quando aplicar:
- Durante o crescimento vegetativo (fase inicial do ciclo da planta) para estimular a formação de folhas e raízes.
- Na fase de floração e frutificação, quando a demanda por fósforo e potássio é maior.
- Em situações de estresse nutricional ou quando há sinais de deficiência de macronutrientes (amarelecimento das folhas, má formação de frutos, etc.).
Fertilizantes com Micronutrientes
Componentes principais: Zinco (Zn), Manganês (Mn), Ferro (Fe), Boro (B), Molibdênio (Mo) e Cobre (Cu).
Função: Esses nutrientes são requeridos em menores quantidades, mas são essenciais para processos bioquímicos e enzimáticos, como a fotossíntese, produção de clorofila e metabolismo energético.
Quando aplicar:
- Para corrigir deficiências específicas, geralmente identificadas por sintomas visíveis, como clorose (amarelecimento) em folhas novas (deficiência de ferro) ou deformações nas folhas e flores (deficiência de boro).
Fertilizantes Aminoácidos
Componentes principais: Aminoácidos livres e compostos nitrogenados.
Função: Os aminoácidos são precursores de proteínas e podem ajudar as plantas a lidar com estresses abióticos, como seca, calor excessivo ou geada. Eles também auxiliam na síntese de hormônios vegetais e estimulam o crescimento em momentos críticos, como floração e frutificação.
Quando aplicar:
- Durante situações de estresse ambiental, como calor intenso ou após danos causados por pragas.
- Antes e durante a fase de floração e frutificação, para melhorar a qualidade dos frutos e a produtividade.
Bioestimulantes
Componentes principais: Compostos orgânicos, como extratos de algas, hormônios vegetais (auxinas, giberelinas), aminoácidos e vitaminas.
Função: Estimulam o metabolismo da planta, promovendo crescimento mais vigoroso e melhorando a tolerância a estresses bióticos e abióticos. Também podem aumentar a eficiência da absorção de nutrientes.
Quando aplicar:
- Durante o crescimento inicial, para estimular o desenvolvimento radicular e vegetativo.
- Antes e após períodos de estresse, como seca, calor excessivo ou geada.
Fertilizantes Organominerais
Componentes principais: Combinação de nutrientes minerais e matéria orgânica.
Função: Fornecem tanto os nutrientes essenciais quanto matéria orgânica, que melhora a capacidade de retenção de água e nutrientes pela planta. São uma boa opção para melhorar a estrutura do solo e a saúde geral das plantas.
Quando aplicar:
- Para complementar a nutrição com matéria orgânica, principalmente em solos desgastados.
- Em cultivos que buscam práticas mais sustentáveis, integrando nutrição mineral com orgânica.
A adubação foliar deve ser monitorada para evitar superdosagens, que podem causar fitotoxicidade (queimaduras nas folhas) ou estresse adicional à planta. A adubação foliar complementa a adubação de solo, mas não substitui completamente a necessidade de fornecer nutrientes pela via radicular, especialmente macronutrientes como fósforo e potássio.
Quais as vantagens e desvantagens da adubação foliar?
A adubação foliar apresenta várias vantagens e desvantagens em relação a outros métodos de fornecimento de nutrientes, como a adubação via solo. Entender esses prós e contras ajuda a determinar quando e como ela pode ser usada de forma mais eficiente para maximizar os benefícios e minimizar os riscos.
Vantagens da Adubação Foliar
Eficiente para Micronutrientes
- Micronutrientes são mais facilmente aplicados via foliar, pois são necessários em pequenas quantidades e podem ser distribuídos de maneira uniforme nas folhas. A adubação foliar é especialmente eficaz para micronutrientes que têm baixa mobilidade no solo, como ferro e boro, garantindo sua absorção rápida.
Correção de Deficiências Localizadas
- Em solos com baixa fertilidade ou problemas de absorção de nutrientes (como solos com pH muito alto ou baixo), a adubação foliar pode contornar essas limitações, fornecendo nutrientes diretamente à planta, independentemente da qualidade do solo.
Auxílio em Condições de Estresse
- Durante situações de estresse, como seca, frio ou danos por pragas, a adubação foliar pode fornecer nutrientes quando a planta tem dificuldade para absorvê-los pelas raízes.
Uso em Pequenas Quantidades
- Como os nutrientes são aplicados diretamente nas folhas, é possível usar quantidades menores de fertilizante, o que pode resultar em economia e menor impacto ambiental.
Desvantagens da Adubação Foliar
Absorção Limitada de Macronutrientes
- Embora eficiente para micronutrientes, a adubação foliar é limitada para macronutrientes (como nitrogênio, fósforo e potássio), que são necessários em grandes quantidades. O ideal é manter uma boa nutrição via solo.
Efeito de Curta Duração
- A aplicação foliar tem efeito mais rápido, mas também de curta duração. Como os nutrientes não são armazenados no solo, seu efeito pode se dissipar rapidamente, exigindo aplicações mais frequentes para manter os níveis adequados de nutrientes.
Necessidade de Condições Climáticas Favoráveis
- A eficiência da adubação foliar depende muito das condições climáticas no momento da aplicação. Vento forte pode dispersar o fertilizante, enquanto chuvas logo após a aplicação podem lavar a solução, tornando o processo ineficaz. Além disso, o calor excessivo pode aumentar a evaporação do fertilizante antes que ele seja absorvido pelas folhas.
Compatibilidade com Outros Produtos
- Ao misturar fertilizantes foliares com pesticidas ou outros produtos, pode haver incompatibilidade, resultando em precipitação de nutrientes ou ineficácia do produto. Isso exige cuidados adicionais na escolha e combinação de produtos, aumentando o risco de erros e reduzindo a eficiência da aplicação.
Conclusão
Portanto, a adubação foliar deve ser aplicada de maneira criteriosa, levando em consideração o momento adequado e as condições ambientais favoráveis. A eficiência da absorção foliar aumenta quando os estômatos estão abertos, o que geralmente ocorre em condições de alta umidade e temperatura moderada e a escolha correta dos nutrientes, bem como a dosagem e frequência de aplicação, também são essenciais para garantir que as plantas recebam os benefícios desejados sem riscos de toxicidade ou desperdício. Quando utilizada de forma correta e integrada a outras práticas de manejo, a adubação foliar pode ser uma aliada importante para a obtenção de melhores resultados em produtividade e qualidade das culturas.
Se você leu até aqui e gostou desse assunto, assine nossa newsletter e conecte-se com a W2S em todos os nossos canais de comunicação para não perder nenhum assunto sobre inovação, governança, tecnologia e ESG. Até a próxima!
W2S, transformando as suas ideias em resultados!
REFERÊNCIAS:
MARSCHNER. Nutrição mineral da planta
SOCIEDADE AMERICANA DE AGRONOMIA. Fertilizer Technology and Use