Tintas Feitas com Terra: Uma Abordagem Artesanal e Sustentável?

As tintas feitas com terra são frequentemente apresentadas como uma alternativa sustentável e de baixo custo, utilizando materiais locais e naturais, conforme mencionado em diversos estudos e reportagens, incluindo a recente matéria do Globo Rural de 10/11/2024. No entanto, a realidade é mais complexa, especialmente ao se considerar a utilização de cola branca (PVA) ou outras resinas sintéticas na preparação dessas tintas.

Essa prática pode comprometer o apelo sustentável do produto, levantando questões importantes sobre regulamentação, controle de qualidade e possíveis impactos ambientais.

Sustentabilidade e Desafios das Tintas Feitas com Terra

Apesar do apelo sustentável, as tintas feitas com terra enfrentam desafios significativos em termos de sustentabilidade. A cola branca, amplamente utilizada como aglutinante, não é regulamentada por normas de qualidade, ainda não existe especificação de Compostos Orgânicos Voláteis (VOCs) mínimo permitido e demais especificação de desempenho como ocorre nas tintas arquitetônicas. Isso pode resultar em emissões descontroladas de VOCs afetando a qualidade do ar e a saúde dos aplicadores, sem contar o risco de comprometer a qualidade da tinta. Além disso, a extração da terra utilizada na formulação, sem o devido controle ambiental, pode degradar o solo e levar à contaminação do produto, afetando sua segurança e desempenho.

Apesar do apelo sustentável, as tintas preparadas com terra enfrentam desafios significativos em termos de sustentabilidade. A cola branca (PVA), amplamente utilizada como aglutinante, não é regulamentada por normas de qualidade. Atualmente, não há especificações claras sobre limites permitidos de Compostos Orgânicos Voláteis (VOCs) nem sobre outros critérios de desempenho, como ocorre nas tintas arquitetônicas. Esse cenário pode resultar em emissões descontroladas de VOCs, comprometendo a qualidade do ar e a saúde dos aplicadores, além de colocar em risco a consistência e a durabilidade da tinta.

Além disso, a extração da terra utilizada na formulação, sem o devido controle ambiental, pode degradar o solo e levar à contaminação do produto, afetando sua segurança e desempenho.

Variabilidade e Problemas Técnicos

Outro aspecto desafiador das tintas feitas com terra é a variabilidade dos materiais. A “terra” utilizada deve possuir propriedades específicas para garantir boa aderência e performance, mas a identificação da matéria-prima ideal pode ser difícil e incerta. As características naturais da terra também influenciam diretamente a cor, resultando em alta variabilidade entre os lotes, dificultando a padronização do produto. Além disso, a ausência de aditivos especializados limita a proteção contra micro-organismos, tornando essas tintas menos adequadas para ambientes internos e com pouca ventilação.

A aplicação da tinta feita com terra exige conhecimento técnico para alcançar a mistura correta. Pequenos erros na preparação podem comprometer a durabilidade e a aderência, aumentando a necessidade de repintura e manutenção. Isso levanta preocupações sobre a viabilidade do uso dessas tintas em larga escala, especialmente em projetos que exigem alta durabilidade e resistência.

Programas Setoriais de Sustentabilidade e Qualidade

Para entender melhor o contexto e a regulamentação da indústria de tintas, é essencial analisar o papel dos Programas Setoriais de Sustentabilidade (PSS) e Qualidade (PSQ), coordenados pela Abrafati. Essas iniciativas são fundamentais para garantir a conformidade ambiental e a padronização dos produtos, servindo como referência para a indústria.

O Programa Setorial de Sustentabilidade (PSS), lançado em 2021 pela Abrafati, é uma iniciativa pioneira na indústria de tintas brasileira. Seu objetivo é orientar e impulsionar a melhoria contínua das empresas, além de promover transparência setorial em temas como Governança e Liderança Corporativa, Capital Humano, Capital Social e Meio Ambiente. Desenvolvido em parceria com o Instituto Akatu, o programa utiliza 44 indicadores distribuídos em 17 subtemas, alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente os 12 mais relevantes para o setor de tintas no Brasil.

O Programa Setorial da Qualidade (PSQ), coordenado pela Abrafati desde 2002, é uma referência no controle de qualidade para tintas imobiliárias. Integrado ao Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) do Governo Federal, o PSQ realiza análises trimestrais de produtos com base nas normas de especificação da ABNT. Essas avaliações abrangem parâmetros como rendimento, cobertura, brilho, secagem e resistência a abrasão (lavabilidade). As marcas que atendem aos critérios rigorosos do PSQ recebem uma certificação de qualidade, oferecendo segurança ao consumidor e promovendo a isonomia concorrencial no setor. Essas marcas podem ser consultadas no site: www.tintasdequalidade.com.br

Tintas Arquitetônicas: Inovação e Desempenho

As tintas arquitetônicas representam o estado da arte em inovação e sustentabilidade.

Formuladas com aditivos avançados e polímeros de alta performance, essas tintas além decorar e proteger, proporcionam benefícios adicionais, como propriedades autolimpantes, resistência a fungos, bactérias, vírus e podem promover até a redução de temperatura dentro da edificação.

A conformidade com o PSS e as normas da ABNT assegura que essas tintas atendam aos mais altos padrões de controle de qualidade e sustentabilidade.

A indústria tem investido significativamente na substituição de solventes de origem petroquímica por sistemas à base de água, que apresentam menor impacto ambiental. O uso de matérias-primas de fonte renováveis e a redução de aditivos de baixa pegada de carbono contribuem para a comercialização de produtos mais seguros e sustentáveis, alinhando-se às expectativas de um mercado cada vez mais consciente e exigente.

Comparação: Tintas Feitas com Terra vs. Tintas Arquitetônicas

Para analisar de forma objetiva, apresentamos a seguir uma comparação detalhada entre tintas feitas com terra e tintas arquitetônicas.

Tintas Feitas com Terra

Vantagens:

  1. Sustentabilidade e Baixo Impacto Ambiental: Utilizam pigmentos naturais, o que pode reduzir o uso de pigmentos sintéticos produzidos a partir de matérias-primas de fonte petroquímica. A produção, em geral, consome menos energia, pois trata-se de um processo artesanal.
  2. Valorização Cultural e Identidade Local: Preservam tradições e conhecimentos locais, sendo valorizadas em projetos de restauração histórica e arquitetura sustentável.
  3. Baixo Custo de Produção: A formulação simples (terra, cola branca e água) torna o processo acessível e de baixo custo, especialmente em projetos comunitários e de baixo orçamento.

Desvantagens:

  1. Baixa Durabilidade e Resistência: Menor resistência ao intemperismo e abrasão, com suscetibilidade a fungos (bolor) e algas.
  2. Variabilidade e Falta de Padronização: A cor e a qualidade variam significativamente entre lotes, dificultando a padronização.
  3. Aplicabilidade Restrita: Adequadas principalmente para aplicações decorativas internas e projetos artesanais, com limitações em ambientes externos e industriais.

Tintas Arquitetônicas

Vantagens:

  1. Desempenho Superior e Funcionalidades Avançadas: Incluem formulações que oferecem resistência a UV e a humidade, Baixo VOC, autolimpeza e propriedades antimicrobianas, além de contribuem para a eficiência energética (reduzem em até 10oC de temperatura ou até em 30% consumo de energia), considerando neste caso o uso de “tintas frias”.
  2. Qualidade Controlada e Certificação: Testadas rigorosamente e certificadas pelo PSQ – Programa Setorial da Qualidade, garantindo desempenho consistente.
  3. Inovação e Sustentabilidade: Uso de matérias-primas de fonte renováveis e aditivos avançados, que tornam o produto funcional e proporcionam propriedades superiores.
  4. Custo baixo: A tinta arquitetônica é um dos revestimentos de melhor custo-benefício, proporcionando ambientes limpos, protegidos e renovados.

Segue abaixo, conforme a norma NBR 15079, os rendimentos mínimos por lata de 18 litros, o preço médio por lata e o custo médio por metro quadrado:

W2S – Working to solutions

Desvantagens:

  1. Dependência do Petróleo: Ainda tem dependência de matérias-primas de fonte petroquímicas.
  2. Uso de Recursos Sintéticos: A produção ainda depende de pigmentos e aditivos sintéticos.
  3. Uso de energia elétrica e recursos hídricos: No atual processo de produção ainda se utiliza alta quantidade de água e de energia elétrica.

A escolha entre tintas feitas com terra e tintas arquitetônicas deve ser pautada pelas necessidades e prioridades específicas de cada projeto. As tintas feitas com terra oferecem uma alternativa interessante para projetos que valorizam a sustentabilidade, o uso de recursos locais e a preservação de tradições culturais. No entanto, enfrentam desafios significativos em termos de durabilidade, qualidade e aplicabilidade, limitando seu uso a contextos decorativos e de baixa demanda.

Por outro lado, as tintas arquitetônicas se destacam por seu desempenho superior, inovação tecnológica e funcionalidades adicionais. Elas proporcionam alta durabilidade, resistência a intempéries e facilidade de aplicação, tornando-se a escolha ideal para projetos que exigem proteção, qualidade e baixo custo de manutenção. Além disso, o investimento contínuo da indústria em matérias-primas de fontes renováveis e sistemas à base de água contribui para um produto cada vez mais alinhado com as demandas de sustentabilidade.

Em termos de custo-benefício, as tintas arquitetônicas são uma opção atrativa, oferecendo um dos menores custos por metro quadrado em comparação a outros revestimentos.

Essa característica, aliada à sua capacidade de proteger e renovar ambientes, faz com que sejam amplamente utilizadas em aplicações residenciais, comerciais e industriais, adaptando-se a diferentes contextos, desde quartos e cozinhas até fachadas de edifícios em centros urbanos e regiões litorâneas.

Dessa forma, as tintas arquitetônicas continuam a ser uma escolha versátil e eficiente, atendendo tanto às demandas técnicas quanto às expectativas dos consumidores por produtos de alta qualidade e sustentabilidade.

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Fontes do Artigo:

www.abrafati.com.br

www.tintasdequalidade.com.br

https://g1.globo.com/df/distrito-federal/bom-dia-df/video/tinta-a-base-de-terra-colore-casas-de-pequenos-agricultores-do-df-13088593.ghtml

https://portalaltadefinicao.com/globo-rural-aprenda-a-fazer-tinta-de-parede-a-base-de-terra

-Por Wiliam Saraiva

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