Do Homo Machina ao Formulador Digital: a Jornada da Robótica e da Inteligência Artificial na Indústria de Tintas

Desde os primeiros autômatos renascentistas desenhados por Leonardo da Vinci até os robôs conectados por IA nas fábricas do século XXI, a relação entre humanos e máquinas atravessa séculos de mitos, ficções, temores e descobertas. A matéria recente publicada pela MIT Technology Review aprofunda essa evolução tecnológica e filosófica dos robôs, revelando como a robótica e a Inteligência Artificial estão diluindo as fronteiras entre o humano e o artificial.

O que muitas vezes parece distante da realidade da indústria química — especialmente no setor de tintas e revestimentos — já começa a se materializar em laboratórios de P&D, linhas piloto e fábricas inteligentes. A IA está deixando de ser um conceito futurista para se tornar uma ferramenta indispensável para quem deseja desenvolver produtos com mais agilidade, segurança, menor custo e maior aderência às exigências regulatórias e ambientais.

Neste artigo, apresentamos a jornada dos robôs na sociedade e como essa trajetória se entrelaça com a revolução que a Inteligência Artificial está promovendo na formulação de tintas e revestimentos, com foco em inovação, sustentabilidade e transformação digital.

1. Da Ficção à Ciência: O nascimento do Homo Machina

A ideia de construir seres artificiais que pensem e ajam como humanos remonta a obras literárias e filosóficas como Frankenstein, de Mary Shelley, ou aos robôs insubordinados da peça de teatro R.U.R. de Karel Čapek, onde o termo “robô” foi cunhado pela primeira vez. Esses artefatos imaginários refletiam os anseios — e os medos — de uma sociedade prestes a ser transformada pela mecanização.

Durante o século XX, os robôs deixaram os palcos da ficção para adentrar as fábricas. Com a Primeira e a Segunda Revoluções Industriais, o uso de automação e controle numérico cresceu exponencialmente, culminando no surgimento de braços mecânicos como o Unimate, adotado pela General Motors nos anos 60. Mais tarde, o desenvolvimento de sistemas como o Shakey, um robô que combinava sensores e planejamento, consolidou a robótica como campo científico e técnico.

Ao mesmo tempo, figuras como Alan Turing e Ada Lovelace alimentaram o imaginário da IA com questões profundas sobre a consciência, a criatividade e o papel das máquinas como “agentes pensantes”.

2. IA e Robótica: da indústria automobilística para os laboratórios de formulação

Enquanto a indústria automotiva e aeroespacial adotava robôs para soldagem, montagem e inspeção, setores como a química formulativa — incluindo tintas, cosméticos, adesivos e polímeros — seguiram por muito tempo presos a rotinas analógicas e altamente dependentes do conhecimento tácito dos profissionais.

Esse cenário começou a mudar com o surgimento de plataformas que uniam automação laboratorial com modelagem computacional e, mais recentemente, Inteligência Artificial aplicada à formulação. A meta: transferir conhecimento técnico para sistemas capazes de sugerir, ajustar e até criar formulações com base em dados históricos e metas de desempenho.

Empresas como ReactorModel, nascida no ecossistema da Universidade de São Paulo, desenvolvem sistemas que permitem prever propriedades de formulações e otimizar custos com alta precisão. Outros players globais, como a Labman Automation no Reino Unido, oferecem robôs físicos que realizam tarefas como pesagem, mistura e medição de propriedades, criando linhas automatizadas de P&D com altíssimo grau de repetibilidade.

3. O Nascimento do Formulador Digital: Colaboração homem-máquina na bancada

Inspirando-se no conceito de exocórtex da matéria da MIT Technology Review, podemos imaginar a IA como uma extensão cognitiva do formulador. Ao invés de substituí-lo, a IA passa a ser um copiloto técnico, fornecendo sugestões baseadas em milhares de dados de formulação, propriedades desejadas, preços de matérias-primas, aspectos regulatórios e metas de sustentabilidade.

Esse novo papel — que chamamos de Formulador Digital — combina a experiência humana com a capacidade de processamento das máquinas. Um formulador, ao invés de testar dezenas de protótipos manualmente, pode selecionar rapidamente três ou quatro melhores caminhos sugeridos por um modelo de IA treinado com as formulações anteriores da empresa, respeitando limites técnicos, legais e mercadológicos.

4. IA Generativa e Robôs Criativos: O Futuro das Tintas Inteligentes

Se os algoritmos de IA já conseguem escrever textos, compor músicas e gerar imagens, por que não poderiam criar formulações de tintas com propriedades personalizadas? Essa é a proposta da IA generativa aplicada à indústria química: modelos capazes de propor combinações inéditas de matérias-primas que atendam critérios como VOC reduzido, alta resistência UV ou aderência sobre substratos específicos.

A combinação entre IA generativa e robótica laboratorial (como o sistema da Labman) permite um ciclo de experimentação contínuo e automatizado, onde a IA propõe, o robô formula, os sensores avaliam e os dados voltam para o sistema treinar novos algoritmos. Um verdadeiro ciclo autossustentado de inovação.

Isso é particularmente promissor para mercados como tintas arquitetônicas de alta performance, revestimentos industriais anticorrosivos, tintas com propriedades antimicrobianas ou até tintas reativas à luz, calor ou pressão, que exigem testes combinatórios intensivos.

5. Desafios e Oportunidades para o Setor de Tintas

Apesar das promessas, a adoção da IA em formulação de tintas enfrenta desafios importantes:

•             Qualidade e volume dos dados disponíveis;

•             Integração com sistemas legados (ERP, LIMS, SAP);

•             Treinamento de equipes técnicas para o uso das ferramentas;

•             Segurança da informação e propriedade intelectual sobre dados de formulação.

Por outro lado, os ganhos potenciais são enormes:

•             Redução de até 50% no tempo de desenvolvimento;

•             Aumento da taxa de acerto em projetos de formulação complexos;

•             Diminuição de custos com retrabalho e desperdício;

•             Aceleração da inovação sustentável com menor pegada de carbono.

6. W2S Consultoria e o papel na transformação digital do setor químico

A W2S Consultoria atua na interseção entre inovação, sustentabilidade e tecnologia, acompanhando de perto o avanço da Química 4.0. Com expertise em gestão de P&D, estruturação de processos e inteligência técnica, oferecemos apoio estratégico e operacional para empresas que desejam implementar soluções de IA, robótica e automação na sua rotina de desenvolvimento de tintas e revestimentos.

Nossos projetos vão desde diagnósticos de maturidade digital até a implantação de modelos preditivos para formulação, passando por mentoria técnica, workshops de inovação e apoio à integração de ferramentas como o ReactorModel e robôs de bancada para laboratórios como da LabMan.

7. Da Engrenagem ao Algoritmo, a Fórmula do Futuro está em Transformação

Assim como os robôs que evoluíram de autômatos programados para “obedecer” até tornarem colaborativos, adaptativos e criativos, o formulador químico também caminha para uma nova era.

Na jornada da Química do Futuro, a inteligência artificial não representa a substituição do formulador, mas sua ampliação. Trata-se de um novo paradigma, onde a criatividade humana é potencializada por algoritmos e máquinas inteligentes, promovendo soluções mais rápidas, seguras, acessíveis e sustentáveis.

É chegada a hora de trocar o tubo de ensaio pela nuvem, o cronômetro pelo sensor em tempo real, e a intuição isolada por modelos colaborativos de IA. Porque o futuro da formulação de tintas já começou — e ele é mais digital, mais preciso e, sobretudo, mais humano do que imaginávamos.

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Fontes do Artigo:

Do mito à revolução tecnológica: a jornada dos robôs na sociedade. Luiz Ribeiro. Março 7, 2025. MIT.

-Por Wiliam Saraiva

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